6 comunidades do Orkut que queremos de voltaOrkut vai voltar? Criador da rede atualiza site e promete novidades
Uma das experiências que mais se destacou nessa fase da relação do brasileiro com a rede tinha um nome estranho: Orkut. Um tipo de plataforma lançada pelo Google que servia para reunir amigos, trocar scraps, escrever testimonials e encontrar novas pessoas com interesses similares em comunidades, que se assemelhavam aos fóruns que já eram bastante conhecidos na época. Foi uma das primeiras redes sociais já criadas. Foi também a primeira rede social de muitos brasileiros e uma pedra fundamental na construção da cultura internética brasileira. A página foi oficialmente descontinuada em 2014. Mais de 18 anos depois do lançamento do Orkut, o cenário não poderia ser mais diferente. O Facebook, que também dava seus primeiros passos em 2004, se tornou uma corporação gigantesca com bilhões de usuários mensais. Aconteceu a revolução do smartphone. Instagram e Twitter surgiram e cresceram. O TikTok nasceu e se tornou a primeira plataforma social chinesa a ter grande alcance no Ocidente. Tudo isso fez a sociedade melhor ou pior? “Pior, sem dúvidas” responde Orkut Buyukkokten, criador da rede social que levava seu primeiro nome, em entrevista ao Canaltech. O ex-gerente de produto do Google esteve no Brasil para falar de seu novo projeto de rede social, que ainda é misterioso. Ele reativou o site Orkut.com, o que indica um possível retorno da plataforma, mas ainda tem cautela ao falar sobre seus próximos passos. “Oficialmente, não posso dizer que o Orkut.com está voltando”, diz ele, que apenas recomenda aos curiosos o cadastro do email no site para que recebam as últimas novidades.
Experiência não falta
Orkut não é um principiante em redes sociais. De fato, poucas pessoas têm sua experiência com esse tipo de plataforma. Quando ainda estudava na Universidade de Stanford, em 2000, lançou sua primeira rede, visando conectar os alunos da instituição. Posteriormente, lançou outra para integrar os ex-alunos. Já no Google, decidiu usar esse conhecimento e ampliar sua proposta para além de Stanford. Como o projeto foi todo conceptualizado e colocado em prática por iniciativa própria, Eric Schmidt, então CEO da companhia, sugeriu dar à rede social o nome de Orkut.com, refletindo o esforço de um homem só. Depois de seus anos de Google e do fim de sua rede social, ele ainda iniciou outro projeto. Chamada de Hello, a plataforma foi lançada em 2016 com os smartphones em mente, mas com a mesma inspiração: reunir pessoas a partir de interesses em comum para criar uma experiência social positiva. “Eu lancei a Hello Network como um teste beta no Brasil, que era mais um projeto transicional para entender qual é o tipo de engajamento que é saudável e une as pessoas”. Embora a rede não tenha tido o mesmo impacto com o público brasileiro, na visão de Orkut, ela também passou longe de ser um fracasso. “Nós aprendemos muito, quantitativamente e qualitativamente, e vamos usar essa experiência para criar algo novo”, afirma.
Por que uma nova rede social?
Orkut não tem papas na língua quando fala do atual mercado de redes sociais. Para ele, a maneira como se deu a evolução das plataformas com o tempo tem pouquíssimo a ver com o bem-estar do usuário. Ele aponta que a única preocupação das empresas está em desenvolver algoritmos que ampliem a retenção do usuário e mantê-lo navegando e rolando a tela infinitamente. Para isso, são capturados dados das ações mais mínimas dos usuários. Para ele, esse é o problema que faz dos grupos do Facebook serem falhos, ainda que tentem replicar a experiência de reunir pessoas que têm interesses em comum. “A tecnologia, por meio de aprendizado de máquina e inteligência artificial, é capaz de manipular o comportamento do usuário por trás das cortinas, sem que você saiba o que está acontecendo”, explica Orkut. E isso tem dois objetivos: o primeiro é garantir a apresentação de conteúdo que mantenha o usuário rolando a tela; o segundo é criar um perfil para gerar anúncios ultradirecionados e incentivar o usuário a comprar algo. “Não é para fazê-lo feliz, não é para fazer novos amigos. É apenas para maximizar o lucro”. “A questão é: as empresas estão medindo as coisas certas? Elas estão medindo se as pessoas estão felizes e tendo conversas significativas? Ou se são grupos extremistas tentando disseminar notícias falsas?”, questiona. O problema dessa dinâmica é que ela passa por cima do uso saudável das plataformas. Ele cita um estudo de 2021 publicado pela Universidade Brigham Young que acompanhou meninas adolescentes de 13 anos durante uma década e concluiu que aquelas que usavam de 2 a 3 horas diárias no início do estudo e aumentaram seu uso de redes sociais durante o período corriam mais riscos de se suicidarem ao chegarem à idade adulta. “Se você tem em mãos a possibilidade de dobrar o seu lucro, mas ao mesmo tempo tem uma chance de 1 em 10 mil de causar uma morte, o que você faz?”, questiona. “É exatamente isso que está acontecendo com as mídias sociais.” Esse é um cálculo que as redes sociais enfrentam regularmente quando racionalizam o vale-tudo pelo engajamento do usuário. O conteúdo que mais gera reações, na forma de compartilhamentos, likes e comentários, ganha mais tração. Infelizmente, esse material é composto, em geral, por publicações que mexem com emoções como raiva e medo. Daí surgem fake news, ódio político e divisão em vez de união. “Você pode criar algoritmos para que isso não aconteça, mas isso não é do interesse dessas companhias, porque elas amam o engajamento”.
Um novo modelo é possível?
O modelo de redes sociais como conhecemos não passa por uma boa fase. Basta olhar a situação por que passam Twitter e Meta, responsável pelo Facebook e pelo Instagram, ambas com milhares de demissões recentes. Ao mesmo tempo, a rede social que tem ditado o rumo do mercado, de social tem muito pouco: o TikTok, definido por Orkut muito mais como um aplicativo de entretenimento do que uma plataforma para criar conexões pessoais. Mesmo assim, seu formato de sucesso tem influenciado as decisões no Instagram, como aconteceu com a ascensão dos stories do Snapchat. Afinal, é o momento para uma nova rede social que aposte em aproximar pessoas e formar comunidades? Para Orkut, sim, é o melhor momento. Apesar disso, Orkut não condena totalmente o uso de dados para fins publicitários, que é o centro do modelo de negócios das redes concorrentes. Ele recomenda transparência, no entanto. “Se você vai repassar as informações para terceiros, você precisa ser claro sobre isso, mas o que eles fazem é esconder isso nos termos de serviço”. Para ele, quando os dados são usados da maneira clara e transparente, o resultado pode ser benéfico. “Se você gosta de ficção científica e de assistir TV e uma nova temporada de Stranger Things sair, é algo de que você gostaria de saber, certo? Então seria ok usar essa experiência humana que você teve anteriormente para publicidade”. “Se você gosta de ioga, provavelmente gostaria de saber de um novo estúdio que abriu no seu bairro”. A dificuldade, para ele, é que as empresas não pensam tanto assim na experiência do usuário e pensam apenas em maximizar o lucro sem preocupação com bem-estar. “Você pode ter um negócio altamente lucrativo sem colocar a vida de pessoas em risco. O problema ocorre quando as pessoas se tornam excessivamente ambiciosas e perdem a empatia”. Para Orkut, essa dificuldade não se restringe às grandes empresas. Ele conta que sentiu, ao longo dos últimos tempos, uma mudança no cenário de startups no Vale do Silício. “Antigamente, o pensamento era ‘como eu posso criar uma grande experiência de usuário? Como posso mudar o mundo e criar impacto?’. Hoje é ‘como eu posso alcançar 1 milhão de usuários o mais rápido possível? Como eu posso deixar o negócio e ficar rico?’”, lamenta.